E agora, José? O futuro da cobertura brasileira da Fórmula 1

Alguns anos atrás, diria que 3 ou 4 anos, escrevi um post sobre um pernóstico artigo escrito por um dos enviados especiais de veículos jornalísticos brasileiros na F-1, cujo nome não vou divulgar, pois não quero causar celeumas. O escriba, no auge da sua petulância, se referia aos gentlemen drivers que disputavam a categoria GT no Brasil como dublês de pilotos, desfazendo não só dos pilotos, como da categoria e do automobilismo doméstico em geral.

No meu post, dei um recado ao jornalista "especializado". Que os "gentlemen drivers" faziam uma parte integral do automobilismo, desde o princípio, inclusive na própria F1 durante boa parte da sua história, e certamente do nosso automobilismo. O fato dele se sentir parte da elite mundial por estar próximo dos melhores pilotos do mundo e viajar para lugares exóticos não lhe dava nenhuma autoridade para falar mal daqueles que praticam o automobilismo localmente por paixão, sendo ou não tão talentosos quanto os Alonsos e Schumachers de plantão.

Lá para o fim do post, lembrei ao autor do infeliz  artigo que poderia, um dia desses, ter que cobrir corridas desses dublês de pilotos, pois existia a possibilidade de não haver representante brasileiro na F1 num futuro próximo. Daí, onde iria enfiar sua empombada empáfia?

Estamos já na metade do campeonato de F1 deste ano, e fica aparente que os dias de Felipe Massa na Ferrari podem estar contados. É quase certo que a Ferrari não contrate Kimi Raikkonen, porém, dois nomes frequentemente ligados com a Scuderia são os ainda jovens Paul di Resta e Nico Hulkenberg. Nos últimos anos, apesar de aqui e ali ensaiar uma melhora, Massa tem contribuído poucos pontos para a Ferrari, que assim, perde alguns milhões de dólares em premiação. Com os dois pilotos da Mercedes subindo de produção, não seria de todo impossível deslumbrar a Ferrari em terceiro lugar no Mundial desse ano. Duvido que a Scuderia dê a chance de Felipe ter uma nona temporada na equipe, se não produzir algo mais substancial nesse final de temporada, e com isso digo, um belo saco de pontos.

Sendo assim, existe a distinta possibilidade de não haver um único representante do Brasil na F1 no ano que vem, pela primeira vez desde 1970, pois se Massa sair da Ferrari, não acho que terá muitas opções viáveis para dar continuidade à sua carreira na F1. E não vejo nenhum outro brasileiro no "pipeline", pelo menos no curto prazo.

Aí, fica a pergunta. Será que sem um único brasileiro os órgãos de imprensa brasileiros vão continuar a gastar dinheiro com enviados especiais? Ou mesmo que não tenham enviados especiais, será que continuarão dando a ampla e quase exclusiva cobertura dada à F1,  entre as categorias de automobilismo? Isto porque a cobertura brasileira do esporte é, em grande parte, ufanista.

Por um lado, pode ser que os jornais redescubram o automobilismo doméstico, que seria positivo. Ou se esqueçam do automobilismo de vez, que seria negativo.

Se eu fosse o dito jornalista, começaria a me preparar para fazer cobertura de corridas com dublês de pilotos. Ou começar a escrever sobre novelas, o Peão Boiadeiro, sertanejo universitário ou reality shows.

Carlos de Paula é tradutor, escritor e historiador de automobilismo baseado em Miami

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