Azares e sortes e méritos

Quem ganha gosta de dizer que sorte e azar não existem, e que tudo é mérito. A questão é certamente muito profunda, porém fica evidente para mim, analisando a história do automobilismo, que muitas vezes a sorte - o vulgo estar no lugar certo, na hora certa - conta muito na receita do sucesso, pelo menos nesse esporte.

Um exemplo clássico disso, que mencionei outro dia, foi a carreira meteórica de Emerson Fittipaldi na F1. Frank Williams estava de olho nele, para substituir o falecido Piers Courage, porém Emerson segurou a barra, e a vontade se começar sua carreira na F1, e acabou como terceiro piloto da Lotus. Quis o destino que o número 2 não fosse lá grandes coisas (John Miles), e o número 1 (Jochen Rindt) morresse antes do final da temporada, sendo assim, Emerson acabou líder da grande equipe Lotus com somente três GPs nas costas. A acabou ganhando o quarto GP da sua vida.

O talento de Emerson era indiscutível. Com pouca experiência quantitativa no Brasil (realizavam-se poucas corridas na época), chegou na Fórmula Ford inglesa ganhando, e no meio da temporada passou para  a F3, levando um dos campeonatos ingleses. Obviamente, era um piloto de futuro. Porém, o ângulo Williams é curioso, pois quem acabou no carro, o De Tomaso que era uma proverbial porcaria, foi justamente a sensação da temporada de FF e F3 de 1968, o Tim Schenken. Tim entrou na F1 pela porta dos fundos, Emerson pela porta da frente. E a carreira do australiano nunca decolou, ao passo que a de Emerson, sim.

Alguns dirão, com certa propriedade, que a tomada certa de  decisões faz parte da equação sucesso. Concordo, entretanto, muitas vezes tomamos decisões que parecem sensatas hoje, e provam ser desastrosas amanhã. O exemplo clássico disso foi Chris Amon. Saiu da Ferrari na hora errada, porém, tinha boas razões para fazê-lo em 1969. No ano seguinte, o carro italiano foi a indiscutível vedete do final do ano, ganhando quatro GPs. Amon correu na March em 1970, e decidiu sair da equipe. O ano seguinte Ronnie Peterson foi vice-campeão com um March...Amon tomou a decisão, que parecia razoável, de ir para a Matra, ainal de contas fabricante do carro que ganhou o campeonato de 1969. Bom, o resto todos sabem. As decisões de Amon (exceto de fazer seu próprio carro) eram bastante racionais, porém, perdeu a aposta diversas vezes.

Em termos mais atuais, vemos que o Pastor Maldonado tinha tomado uma decisão bastante racional ao levar seu saco de petrodólares bolivarianos para a Lotus, que no final de 2013 tinha o único carro a dar preocupações a Vettel. Saiu da Williams, que teve uma temporada bastante sofrível. E os papeis mudaram...a Williams se tornou competitiva em 2014, e a Lotus um desastre.

Quem diria que um ano depois de sair da Ferrari, Massa estaria inclusive comemorando um final de tenporada bom, andando milhas na frente dos carros italianos, pilotados por dois ex-campeões mundiais. E o eixo Ferrari tem algo de muito relevante em relação às próximas temporadas de F1.

De lá saiu Alonso, que não terá uma vida muito fácil no começo do relacionamento reatado com a McLaren. Os primeiros testes do carro com motor Honda não foram auspiciosos, embora a McLaren esteja certa em ser a principal equipe Honda, do que segunda ou terceira da Mercedes. Resta saber se Alonso ainda tem idade - e motivação - para correr uma ou duas outras temporadas sem ganhar um GP. Cabe lembrar que a última passagem da Honda na F1 não foi lá grandes coisas.

Quanto a Vettel, acho que errou ao sair da Red Bull. Sim, Ricciardo ofuscou a temporada do alemão, porém, acho que Seb tinha tudo para recuperar seu lugar de número 1 na equipe austríaca. Na Ferrari, provavelmente terá um ano somente um pouquinho melhor do que Alonso na Mclaren.

Ou não. Quem sabe a Ferrari recupere sua velocidade, se organize, e Vettel consiga ser competitivo. Afinal de contas, ninguém contava com a competitividade da Williams no final de 2013.

Um ou os dois terão tomado uma decisão precipitada. E isto só vamos saber lá por 2016.

Quanto a 2015, podem contar com a Mercedes na frente, novamente.

Comentários

Postagens mais visitadas deste blog

O taxista de São Paulo, e muito disse não disse

RESULTADOS DE CORRIDAS BRASILEIRAS REMOVIDOS DO BLOG

DO CÉU AO INFERNO EM DUAS SEMANAS - A STOCK-CAR EM 1979