A triste saga de um anacrônico

Vollmer, Model Power, truckstopmodels.com...

Sei que para a maioria das pessoas, esses nomes não significam nada. Para mim sim. O primeiro, era um fabricante alemão de lindas e detalhadas maquetes, o segundo, fabricante americano de maquetes e carrinhos na escala HO, e o terceiro, uma loja on-line de carrinhos na escala HO. Em comum, as três empresas fecharam no espaço do último ano.

Comecei a me interessar grandemente por essas maquetes e escala em 2009. Entretanto, acho que cheguei tarde! Tenho a leve impressão de que me apeguei a um hobby que está morrendo.

Não se trata de nostalgia. Nostalgia é ter saudades "da boa época", de um passado que passou. No meu caso, tenho a leve impressão de estou me tornando pouco a pouco, anacrônico. Parece que em grande parte, as coisas que curto, estão morrendo, pelo menos na forma tradicional.

Por exemplo, livrarias. Sim, no Brasil elas aparentemente prosperam. O livro é, afinal de contas, um certo símbolo de status no Brasil. Aqui nos EUA, as livrarias morrem uma dolorosa morte. Pouco a pouco, só vão sobrando as livrarias online, e os livros em papel parecem ter um destino certo - o museu.

Quando mudei para os EUA, uma das coisas que mais me  fascinou era a abundância de livrarias em Nova York. A Quinta Avenida, em sua área mais nobre, era conhecida não por lojas da Coca-Cola e grifes de gosto questionável, mas sim, por livrarias como Scribner, B. Dalton, Barnes & Noble. E havia muitas outras livrarias nas cercanias, Coliseum, Classic, Rizzoli. Acreditem ou não, tinha até uma livraria especializada em dicionários e livros em idiomas estrangeiros em pleno Rockefeller Center, e a uns dois quarteirões dali, a pequena, porém gloriosa Albion Scott Books, que vendia livros de automobilismo! Hoje, essas lojas são meras lembranças de bibliófilos.

Depois, as revistas. Não são só os livros que sofrem. Revistas desaparecem ou declaram falência quase diariamente, e tudo, aparentemente vai migrar para a Internet. Bancas de jornais, aqui em Miami Beach, só existe uma.  Não precisa nem dizer que os títulos que mais me interessam, por exemplo, de automobilismo, simplesmente sumiram das prateleiras. Nos supermercados, são oferecidas as mesmas cinquenta revistas vendidas em quase todo lugar.

Depois tem as histórias em quadrinhos. Aqui nos EUA é muito difícil achar esse tipo de revistinhas. Fico feliz que no Brasil resurgiram, não sei por quanto tempo, títulos com Recruta Zero, Bolinha e Luluzinha. Porém, aqui nos EUA é muito raro achar mesmo revistas da Disney...

Na música, que falar...as bandas que curto são em grande parte formadas por sessentões ou setentões, e provavelmente, dentro de dez anos nenhuma mais estará tocando ao vivo. Restarão somente as memórias, os vídeos no youtube, ou me resignar a gostar de bobinhas pop como Lady Gaga e Katy Perry. Ainda bem que resta a supostamente imortal música clássica.

Até mesmo minha querida Fórmula 1, dizem alguns, está ameaçada.

Ainda bem que o meu animal predileto é o pato, e não o mico-leão dourado.

É melhor eu colocar a casa em ordem e procurar outros gostos e hobbies. Ou me tornar, eu mesmo, uma peça de museu.

Carlos de Paula é tradutor, escritor e historiador de automobilismo baseado em Miami

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