Ecos de Siracusa

Pergunte-me qual marca antiga de F1 gostaria de ver ressuscitada, e lhe responderia sem hesitação, BRM. Não o buggy brasileiro BRM, esse não vale que, me perdoem Beta, Ricardo e Marcos. A British Racing Motors. Quando o nome Lotus renasceu, tive cá minhas reservas. Afinal de contas, os Lotus de rua continuaram a ser fabricados após a falência da equipe de F1 em 1994, e a volta da marca às pistas obviamente pareceu um exercício de marketing, haja visto que duas equipes acabaram usando-o sem nenhuma ligação com a Lotus original, a do Chapman.

Alguns dirão que a Lotus de Chapman já tinha suas ligações com a Renault desde a época do Lotus Europa, e que duas décadas depois, os motores da Régie equiparam os carros da equipe de F1. Sendo assim, existiria pela menos algum vago vínculo.

Mudando de assunto, nos anos 50, o Mundial de F1 tinha um calendário restrito, e pouco mais de meia dúzia de GPs, mais as 500 Milhas de Indianapolis compunham a pequena temporada. A esssas corridas somavam-se diversos GPs não oficiais, em grande parte realizados na Europa, além de uma ou outra corrida na América do Sul. Esses GPs meia-boca serviam para trazer a F1 a locais como Pau, que não faziam parte do calendário oficial. e também eram úteis para manter os bólidos em ação, e colocar alguma grana no bolso dos pilotos e equipes.

Hoje em dia estamos acostumados com os ingleses na F1, porém, no início da década de 50, os carros britânicos estavam longe de alcançar os italianos, franceses e depois os alemães.  Na década de 30, os ERA e MG fizeram algum sucesso na categoria Voiturette, porém, entre os carros de GP, o último sucesso de um carro inglês no continente havia ocorrido no longínquo 1923. No comecinho da F1, os pequenos construtores ingleses, como Cooper, HMW e BRM, já tentavam ter um impacto mais substancial na F1. E tinha a Connaught.

No fim das contas, foi a mais humilde Connaught que deu aos ingleses o primeiro triunfo no continente desde 23, com a vitória no GP de Siracusa, na Sicília, em 1955. E para tanto, o dentista inglês Charles Anthony Standish Brooks teve que bater a equipe oficial da Maserati, na época uma das principais equipes da F1, além de duas Ferrari e a Gordini. Um feito e tanto.

No Mundial mesmo a Connaught nunca se deu bem, e de fato, sobreviveu pouco tempo após o GP de Siracusa.

Sendo assim, pelo menos entre os ingleses o nome Connaught significa algo muito grande. Assim, não é surpreendente que tenha surgido um pequeno fabricante de carros chamado Connaught, entre os diversos pequenos fabricantes de fora-de-série que existem na Inglaterra.

Abro aqui parênteses. Hoje em dia pouco restou da uma vez gloriosa  indústria automotiva inglesa. Só sobraram as marcas premium (Jaguar, Aston-Martin, Rolls Royce, Bentley, Lotus), salvo pela Aston-Martin, todas em mãos de estrangeiros, e entre as mais populares, Mini, MG e Vauxhall, todas com controladores estrangeiros. Entre as marcas extintas estão a Triumph, Morris, Austin, Standard, Sunbeam, Hillman, Humber, Rover, Daimler e outras, muitas assassinadas pela inépcia da British Leyland nas décadas de 60 e 70. Ainda há, entretanto, diversos fabricantes de fora de série na Inglaterra, que manteem uma certa esperança de que algum dia o setor volte a ser importante.

Em 2002, o nome Connaught foi reavivado, enquanto ainda existe uma geração que se lembra do heróico dia em Siracusa. Seu rebento foi o Tipo D, que aparece na foto a seguir. O site é http://www.connaughtmotorco.com



A proposta da Connaught é bem diferente da nova Vanwall, pode-se ver. Não fizeram um carro de GP para andar na rua, mas sim um mais comportado cupê, com alguma inspiração esportiva, porém longe de parecer um carro de corridas. Diga-se de passagem, fora de Siracusa, 1955, pouco existe no passado da Connaught para justificar um ataque ao mundo dos caríssimos supercars.

O projeto tem continuado, a fábrica ainda existe, embora o congestionado mercado de carros fora de série tenha há alguns anos engolido a TVR, entre outras.

Carlos de Paula é tradutor, escritor e historiador de automobilismo baseado em Miami. E cheio de histórias.  

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