Volkswagen na Fórmula 1

Eis aqui um rumor que perdura há mais de duas décadas, a suposta entrada do Group VW na Fórmula 1. A meu ver, continuará a ser um rumor. Pelas seguintes razões.

Para o torcedor mais ingênuo, fábricas entram em competições para competir. Ledo engano. Fábricas entram em competições para ganhar, e é por isso mesmo que, de modo geral são poucas em cada categoria. A única coisa que justifica o investimento milionário é a vitória - aí as fábricas procuram um nicho aqui e ali para competir - e sair vitoriosas. De modo geral contra dois, no máximo três outros concorrentes fortes.

Todo Conselho de Administração de empresa é pragmático, e o da VW se excede no pragmatismo. Não fazem nada pelo oba-oba, as decisões são tomadas com visão clara e objetivos claros, bem no modo teutônico, e não queimam dinheiro

Sendo assim, a F1 tem pouco ou nada a oferecer à VW. Primeiro, é a competição de mais alto nível do automobilismo mundial, e as possibilidades de sucesso são bem menores. Basta perguntar à Toyota.

Segundo, colocar sua marca Audi contra a Mercedes na F1 seria queimação de filme, até temerário. A Audi conseguiu sair do terceiro lugar em vendas entre as marcas de carros de luxo, de alto valor agregado, para o primeiro lugar. Não precisa ser gênio para ver que a Mercedes é a melhor equipe do momento na F1, e que foram necessárias quatro temporadas para chegar nesse patamar. Se fosse entrar na F1, o Grupo VW certamente não iria usar as marcas VW ou Porsche, nem tampouco qualquer outra das suas outras marcas (Lamborghini, Bugatti, Seat, Skoda, Bentley). Nos rallyes a VW está muito bem, obrigado, e nos protótipos, o primeiro ano da Porsche foi bom, considerando seus concorrentes.

Mais especificamente, o rumor atual diz que a VW entraria na F1 e tiraria a Audi do DTM e de Le Mans. Acho bastante improvável a Audi sair do DTM, porém, acho que obviamente sairá de Le Mans no curto prazo.

O pragmático Conselho da VW não aprovaria um investimento milionário de duas das suas marcas em Le Mans, no médio prazo. Obviamente, aprovou no curto prazo, até que a Porsche prove ter condições de assumir o manto de quase invencível da Audi. Quando isso ocorrer, a Audi deixa a cena.

É preciso entender que a Porsche tem passado por uma crise de imagem neste milênio. Nas disputas de corridas de GT dos anos 70, no Europeu, Mundial de Marcas e DRM, a Porsche disputava quase sozinha, com um ou outro De Tomaso ou Lancia trazendo variedade. Hoje, entretanto, os carros da fábrica não são mais sinônimos de GT. Basta ver que na série Blancpain há quase uma dezena de fabricantes, com a notável ausência da Porsche.

Não é só nas pistas que a Porsche está sofrendo. Nunca na história do automóvel houve tantos milionários no mundo em condições de comprar carros esporte caros, numa época quase um monopólio da Porsche. Entretanto, apesar da forte demanda, há dezenas de marcas de supercarros no mercado. Entre os principais grupos automotores há Ferrari, Lamborghini, Chevrolet Corvette, Chrysler Viper, Maserati, Jaguar, Aston Martin, BMW, Mercedes, Audi, McLaren, Lotus, sem contar carros mais exóticos como Pagani. Ao mesmo tempo em que esse mercado expandiu, a Porsche gastou dinheiro e energia colocando carros no mercado que feriam sua imagem esportiva - SUV e um carro de quatro portas, perdendo força no mercado de carros esportivos, de alto valor agregado.

A Porsche obviamente PRECISA voltar a ganhar as 24 Horas de Le Mans, e a última coisa que precisa é de um concorrente do nível da sua irmã Audi.

Sendo assim, a meu ver a única parte desse rumor que faz sentido seria a saída da Audi de Le Mans, quem sabe já em 2016.

Carlos de Paula é escritor, tradutor e historiador de automobilismo baseado em Miami

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