Muita burrice

Apesar de morar na Florida há 9 anos, nunca tive o desprazer de me deparar frontalmente com um furacão. De fato, mudei-me para o estado alguns dias depois de passar o último furacão, e no máximo, experimentei algumas "rabeiras" de furacão, que afinal de contas, são imensos sistemas de baixa pressão com muitos kilometros de raio.

Curiosamente, o mais próximo que cheguei de enfrentar um furacão foi no longínquo ano de 1983. Numa viagem de negócios a Hong Kong, o Boeing 747SP em que viajava foi obrigado a fazer uma parada técnica de reabastecimento em Okinawa, extremo sul do Japão. Pela região estava passando um dos tufões ubíquos no extremo oriente no mês de outubro. Não é necessário dizer que foi a mais terrível aterrisagem (e depois, decolagem) da minha vida. Não se via nada do lado de fora, porém, não havia opção.

No mês de outubro os tufões são comuns por aquelas bandas. De modo geral, atingem o Japão e Filipinas, embora cheguem também a Hong Kong e diversos outros países do Pacífico. Os tufões não ganham tanta ênfase na imprensa, embora sejam até mais perigosos do que os furacões - certamente produzem ventos mais felozes.

Alguns anos antes, em 1976, o Japão fora palco da corrida que decidiu o campeonato de F1, o primeiro GP nipônico e primeiro na Ásia. A corrida quase não se realiza, pois o autódromo de Fuji ficou enxarcado com um verdadeiro dilúvio. O resto da história, todos sabem, afinal de contas o filme "Rush" a contou com algumas liberdades poéticas e erros.

Eis aqui um dos mistérios da vida. Nos EUA, na mesma Flórida em que vivo, importantes corridas geralmente são marcadas fora da chamada "temporada de furacões", que vai de junho até começo de novembro. Tem sido assim com as 24 Horas de Daytona, 12 Horas de Sebring, Daytona 500, com a final da NASCAR em Homestead, e com a maioria das etapas de Formula Indy em Homestead, Tamiami Park e St. Petersburg. Ainda assim, não é garantia de muita coisa. Nos anos 80, um GP de Miami (IMSA) realizado em Tamiami Park no começo do ano terminou em aguaceiro.

Mesmo sem nunca ter passado por um furacão, posso dizer, com propriedade, que aqui chove com gosto. Ontem mesmo, quase parei meu carro na US 1, pois uma chuva despejou em 30 minutos uma quantidade de água que teria enchido a represa da Cantareira em SP. São assustadoras essas chuvas tropicais , e põem no chinelo os temporais de São Paulo.

Voltando ao mistério. Mesmo sabendo que outubro é o auge da temporada de tufões no Japão, os organizadores e a FIFA continuam a marcar a corrida nessa época. Entendo que haja problemas de logística. Também entendo que em 76, 77, o GP foi colocado como última prova para dar um status superior á corrida, pois já se buscava os ricos iênes dos japoneses na categoria, sempre ávida por dim-dim. Ainda assim, a corrida não sobreviveu, e ficou fora do calendário durante alguns anos. Naquela época, o GP do Japão era a única corrida da Ásia, e colocá-lo como prova final fazia sentido logístico.

Na atualidade, não faz. O GP da China, por exemplo, ocorre no começo do ano, assim como o da Malásia. Por que não inserir o GP do Japão nessa época? OK, o tufão não havia chegado na pista, porém, já houve precedentes de corridas internacionais canceladas no Japão por causa de tufões, e o quali de 2004 foi cancelado por causa disso. E por outro lado, o GP do Japão não é mais a final do campeonato, portanto, não faz qualquer sentido a insistência com a colocação da corrida nessa época do ano.

Cheguei a postar um comentário no FB sobre o assunto, antes de chegar ao acidente de Jules Bianchi na gravação. Portanto, minha fúria não tinha a ver com o acidentado piloto francês, mas sim, com o desrespeito ao público. Afinal de contas, tem gente do país inteiro que vai para o GP, e os japoneses amam seu GP. Muitos certamente correm riscos estúpidos para se deslocar e ver a corrida in loco.

Muitos vão discutir infinitamente se a chuva foi ou não culpada pelo acidente de Bianchi, cujo estado de saúde não é dos melhores. Acidentes, afinal de contas, ocorrem nas melhores condições meteorológicas possíveis. Pessoalmente, acredito que a situação climática teve uma grande porcentagem de culpa, porém, não vem ao caso.

Meu ponto é que esse GP nunca deveria ser realizado em outubro. Ponto final.  



 

Comentários

  1. Bom, vi este post no G+ do amigo Paulo, moro no Japão desde 1997 e trabalho com o automobilismo japonês. Conheço bem com é a temporada de taifu, ou (tufões), ontem as condições não eram boas, estamos no outono e em alguns regiões do país escurece muito cedo, as 16:30 já é noite e ontem não estava diferente.

    Creio que o acidente foi uma soma de tudo, talvez uma fatalidade. Não fui até Suzuka ontem pelo motivo do tufão, enviamos nossos correspondentes que moram mais perto e não teriam tantos problemas para voltar até suas casas. Na minha opinião a prova realizada no início da temporada seria um problema, já que o inverno é rigoroso e março ainda neva bastante, a melhor época seria maio ou junho, de julho à outubro é a temporada de taifu, agosto é verão e as temperaturas chegam próximo dos 40. Para você ter uma ideia, os 1000 kms de Suzuka, prova da Super GT leva cerca de 6 horas e geralmente acontece em agosto, os pilotos sofrem muito.

    Outra coisa, a corrida claro que poderia ter começado as 13:00 horas, mas conhecendo o pessoal da organização, tinha certeza que não mudariam o horário. Triste ver o que aconteceu, espero que Bianchi saia dessa, no entanto, seu quadro de saúde não mudou até hoje. Vamos aguardar...

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