Carta aberta a Parentes de Ex-Pilotos e Ex-Pilotos
Eis algo
que detesto: pessoas que querem fingir ter boa educação te chamando de
”senhor”, e logo depois descem o barraco. A prova cabal de falta de
educação é tratar sem civilidade uma pessoa que nunca te agrediu, que nem
conhece. Comportamento patológico dos arrogantes, cuja mãe provavelmente não
ensinou que não se deve faltar ao respeito com as pessoas. Prefiro mais que
omitam o “senhor”, porém me tratem bem no contexto geral.
Comecei a
escrever sobre automobilismo na internet em 2003, e houve época em que isso envolvia
um projeto e certas ambições. No meio do caminho caiu a ficha, o projeto se
demonstrou inviável e as ambições viraram pó. Sendo assim, hoje em dia isto é,
para mim, mera distração. Não estou aqui para entabular extensas discussões,
para provar que sei mais e fulano menos. Sei (e nem quero) que nao vou ser amigo nem agradar a todos, porém, também não quero nutrir inimizades. Sou do bem, fujo de contendas, porém, sou
norteado por princípios.
Um dos
princípios mais importantes, no que tange a confecção de textos, é diferenciar
o subjetivo do objetivo. Sem me repetir, sempre procurei pesquisar bem o
objetivo, tomando minhas liberdades com o subjetivo. Para quem não sabe a
diferença, dizer que “não gosto de político X” é subjetivo, questão de opinião
e não passível de prova. Dizer que ”político x é ladrão” entra no terreno do
objetivo, passível de prova, e sujeito a processo de difamação. Por “n”
questões que não vem ao caso, passei a usar critérios mais “subjetivos” em meus textos há algum
tempo. Quanto ao objetivo, nunca me furtei de corrigir algum fato histórico
incorreto, desde que devidamente corroborado pelo interlocutor.
Em suma, as
opiniões são minhas, os fatos pertencem à história. Não “corrijo” minhas
opiniões, minhas interpretações, nem por decreto-lei, e não adianta insistir.
Elas são o que elas são, e nem tampouco estou interessado em discutir meus
pontos de vista. Se estivesse, passava horas do dia escrevendo em grupos do
facebook ou em foruns. Tenho mais o que fazer da vida.
Não se
trata de arrogância, mas sim falta de volição, falta de energia e tempo. Há
gente que adora debater horas, diariamente. Não é meu caso.
Entretanto,
desde o começo da minha atuação na crônica do automobilismo, notei que há muita
gente com ego frágil no esporte, e que demanda, como se fosse seu direito, a
inclusão das suas façanhas no meu conjunto de textos. Muitas vezes respondi, a
certa altura das coisas, parei de responder a tal tipo de mensagem, julgando-as
absurdas. Meus blogs não são espaço para auto-promoção de ninguém, morto ou
vivo, e sim para divulgação de fatos E minhas opiniões.
Alguns hão
de dizer, o historiador deve somente narrar fatos, e não interpretá-los. Esses
confundem historiador com repórter. Uma função chave do historiador é
justamente contextualizar fatos e interpretá-los, juntar os pontos, daí, o
subjetivo tem bastante lugar nos textos históricos.
Voltemos ao
objetivo. Nem tudo são flores na história do nosso automobilismo. Ex-piloto que transportava cocaína em aviões, carros de corrida vendidos com pedigrê
falso no exterior, questões cambiais nebulosas no patrocínio de pilotos
brasileiros no exterior, violações claras de regulamento, favorecimento de
fábricas, e até o roubo de um chassis de Fórmula 1 em Interlagos...
Sim, fatos
deliciosos que provavelmente dariam textos supimpas. Se por um lado, aqui e ali
posso omitir um fato que favoreça uma figura histórica (dependendo do
contexto), por outro lado, sempre procuro omitir os lados mais escabrosos do
nosso automobilismo. O mesmo filtro de fatos que ora parece ser negativo, em
certos momentos é positivo. Afinal, ninguém quer ver o nome de um heróico
parente atrelado a uma atividade criminal ou anti-ética...
E quem
decide qual informação será incluída num post sou eu. Por exemplo, escrevi um
post sobre a Divisão 4 cujo intuito não era elencar exaustivamente todos os
protótipos feitos no Brasil entre o final da década
de 60 e meados dos anos 70, nem tampouco os criadores desses carros. Qualquer
omissão no texto não deve ser interpretada como facciosa.
Por outro lado, certo interlocutor me chama de
“bairrista”. Todos que me conhecem e lêem meus textos sabem que aprecio muito o
automobilismo gaúcho, paranaense, carioca, nordestino, do planalto central, e
apesar de paulistano, sempre apoiei pilotos de todos outros estados da
Federação. Se tem uma coisa que não sou é bairrista.
Por último, muita gente não sabe ler, apesar de
ter curso universitário. De uma coisa estou certo – sei escrever, portanto o
erro não é meu. Sempre digo que há três tipos de carreiras de pilotos. a)
Aqueles que fizeram tudo que se esperava dele(a) – caso de Ayrton Senna. b)
Aquele que realizou muito menos do que se esperava dele(a) – caso do Chris
Amon. c) E aqueles cujos resultados foram muito melhores do que se esperava do
piloto – caso do Pedro Paulo Diniz. Sendo assim, quando
se diz que o desempenho de um piloto enquadrado no item b) decepcionou, longe
disto ser uma desonra!!! Muito pelo contrário, isto significa que na opinião do
escritor (seja qual for) o piloto tinha muito mais talento e recursos para
obter melhores resultados.
Levando em consideração os fatos acima, concluo dizendo que aqueles que não gostam dos meus textos têm dois trabalhos. Desgostar, depois gostar ou pelo menos ignorar. Podem tirar o cavalinho da chuva, não vou mudar minhas opiniões para massagear egos.
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