#vaprarua, automobilismo!

Nos anos 60, meu pai havia comprado uns terrenos em Cidade Dutra. Quem sabe, poderia ser um bom investimento para o futuro. A área era bastante erma, longe de tudo, embora já tivesse ruas de terra e casas de padrão popular.  O patrimônio não ficou na família nos anos 70. De fato, no primeiro ano da década, meu pai vendeu os terrenos antes que tivessem uma valorização radical.

Hoje em dia Cidade Dutra, um bairro situado no extremo sul de SP, entre Socorro e Paralheiros, é um violento bairro. A coisa não melhorou muito por aqueles lados, de forma que a alienação do terreno não foi mal negócio.

Recentemente, no ano passado para ser mais específico, o autódromo do Rio em Jacarepaguá, teve sua última corrida. A pista, já bastante descaracterizada por obras dos Jogos Panamericanos de alguns anos atrás, está sendo completamente destruída, para dar lugar a uma Vila Olímpica, que, sabe-se lá se será usada após 2016.

Nesta semana, surgiu o fato, ainda não confirmado, de que o autódromo de Curitiba, situado em São José dos Pinhais, não passará de 2015. A área será supostamente ocupada por novos condomínios residenciais.

Entretanto, nos últimos anos, surgiram corridas de rua em lugares como Salvador, Ribeirão Preto, e mesmo na Marginal de São Paulo, algo impensável há seis anos atrás. Supostamente, a nova Fórmula E terá uma corrida nas ruas do Rio de Janeiro. Ou seja, ao passo que autódromos desaparecem no Brasil, corridas de rua parecem proliferar.

A destruição de autódromos não é novidade. Autódromos como Riverside, nos EUA, e Nivelles, na Bélgica, deram lugar a ocupações mais "produtivas" do solo, na definição daqueles que não vêm muita razão de ser no automobilismo. Cabe lembrar que nos Estados Unidos, de modo geral, os autódromos ficam bem longe das grandes metrópoles. Watkins Glen, por exemplo, é uma cidade bastante tranquila do norte do Estado de Nova York, há muitas horas da megalópole. Mesmo o autódromo de Homestead, que alguns insistem em chamar de Miami, fica numa área ainda bastante desvalorizada, próxima de uma base aérea, local geralmente preterido por investidores imobiliários.

Ocorre que no Brasil, salvo rarissimas exceções, muitos autódromos são localizados nas capitais, onde a especulação imobiliária tende a engoli-los. Há exceções como Cascavel e Caruaru, porém, pistas situadas em locais como Brasília e Goiânia tendem a desaparecer do mapa, à medida que estas cidades crescem. Cidades do porte de Watkins Glen há aos quilos no Brasil, porém, a infra estrutura hoteleira e viária do nosso interior, sem contar a falta de aeroportos, não viabiliza a construção de vistosos autódromos em cidades do interior de Goiás, Matro Grosso e Minas Gerais, por exemplo.

Assim que o movimento #vaprarua parece se aplicar também ao automobilismo de competição. Apesar de toda convulsão que a realização de uma corrida causa a uma cidade, parece que nos próximos anos surgirão mais eventos deste tipo, e pelo menos uns dois outros autódromos ainda serão eliminados pela especulação imobiliária. Cidades como Vitória e Florianópolis já tiveram boas corridas de rua num passado recente.

O que salva Interlagos, paradoxalmente, é o fato de a área em volta da pista, inclusive a Cidade Dutra dos ex-domínios da minha família, ser em grande parte desvalorizada. E o fato de ainda ter o Grande Prêmio. Se a Fórmula 1 cair fora do calendário do Mundial, os dias podem estar contados até para o histórico e querido autódromo.

Carlos de Paula é tradutor, escritor e historiador de automobilismo baseado em Miami

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