Profissionais e não profissionais, eis a questão

Não escondo de ninguém que nunca ganhei um centavo com automobilismo, salvo por pingadinhos de anúncios do google, que mal dão para pagar um hosting de site. Ou seja, sou um diletante com D maiúsculo, assumido. Por isso mesmo posso me dar ao luxo de ficar mais de mês sem postar nada e não tenho rabo preso com ninguém.

Por outro lado, às vezes me choca  o fato de alguns profissionais do ramo - e aí digo aqueles que veiculam informações ganhando dinheiro - escreverem artigos com erros crassos. No caso em pauta, me refiro a um artigo de seis páginas, cheio de excelentes ilustrações, publicado numa das principais revistas de automobilismo de competição da Terra Brasilis. O artigo foi assinado por um profissinal, e editado por outro.

Na última página do artigo, que tinha um óbvia essência histórica, o autor, ajudado por seu editor, nos informa que 24 pilotos brasileiros já participaram das 24 Horas de Le Mans. Na coluna seguinte, lista alguns destes, que, pressupõe-se, foram os brasileiros mais importantes a participar da grande corrida. Depois nos informa que Ricardo Zonta foi o brasileiro mais próximo de vencer a corrida, em 2008, com seu terceiro lugar. E emenda, "o melhor resultado de um brasileiro".

Os dois profissionais, que obviamente não ganharam milhões para escrever o artigo, porém, ganharam algo, parecem se esquecer de José Carlos Pace, que chegou em segundo com Arturo Merzario em 1973, e de Raul Boesel, segundo em 1991, com Michel Ferté e Davy Jones. Acho que esqueceram mesmo, pois a sua lista de brasileiros importantes omite os dois grandes nomes do automobilismo brasileiro, apesar de lembrar de figuras menores como Marinho Amaral e Xandinho Negrão.

É verdade que o texto fica meio confuso neste parágrafo, e não fica claro se o autor quis dizer que Zonta foi o melhor brasileiro da corrida de 2008, com seu terceiro lugar a duas voltas do vencedor, e por tê-la liderado, OU se foi o brasileiro melhor colocado na história da corrida. O elenco listado no começo do parágrafo, parece indicar a segunda opção - quis mesmo dizer que Zonta obteve o melhor resultado de um brasileiro em Le Mans até hoje. Seja qual for a opção, jornalistas são obrigados a escrever fatos corretos, com clareza, SEMPRE com clareza.

Mudando de assunto.

Entendo que muitos tenham se chocado com a decisão da RGT de substituir o Reginaldo Leme  como comentarista em  alguns GPs, pelos pilotos Rubens Barrichello e Luciano Burti. Acho, entretanto, que a discussão foi mal direcionada. Criticar a participação dos pilotos Rubinho e Burti no lugar do jornalista Leme, em alto estilo corporativista, não fez sentido. Deveriam perguntar como o Galvão Bueno continua a ser o narrador das corridas da RGT, quando a editora tem um jornalista do calibre de Leme no seu elenco!!!

Aliás, também não entendo a eterna presença do Luciano do Valle na narração de corridas, nesse caso, na Band.

É bom ter corredores comentando corridas. Podem não saber muito da história do automobilismo, porém, entendem da parte técnica como ninguém. Não consigo entender transmissões de F1 feitas por uma pessoa que também narra jogos de futebol, campeonato de natação e bolinha de gude. Não tem como o cara entender de todos os esportes, daí as gafes tanto do Galvão, como do Luciano. Imagino que as suas respectivas emissoras os consideram melhores "entertainers" (um pouco questionável), daí são mantidos na posição de prestígio. Aqui nos EUA, as transmissões da F1 são feitas por um jornalista especializado em automobilismo, e os comentários tecidos por um ex-piloto e um ex-mecânico.  E assim deveria ser no Brasil.

Fui, novamente. Um dia destes volto.

Carlos de Paula é tradutor, escritor e historiador de automobilismo baseado em Miami
 

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