O que esperar da temporada de Razia na Marussia

Há questão de dois anos atrás, algo muito interessante ocorreu na imprensa paulistana. Os dois grandes jornais publicavam versões díspares sobre o jogador Neymar, do Santos. Um dizia, taxativamente, que Neymar já estava com os pés dentro do Barcelona, ao passo que o outro afirmava, que segundo fontes do staff do jogador já estava seguindo para o Real Madrid. No fim das contas, nenhum dos dois estava certo, e Neymar ficou no Santos mesmo.

Houve muita especulação quanto ao futuro do piloto Luiz Razia, por razões diferentes - o bom baiano não é, afinal de contas, o Neymar do automobilismo. Desde o final da temporada passada, cada hora o piloto era "colocado", tido como certo, numa equipe ou outra. A imprensa chegou a jurar que Razia seria um dos pilotos da Force India, uma das equipes que mais brilhou nas últimas corridas do ano.

Chegou a um ponto que não acreditava mais em uma notícia sobre o piloto.

Acabou que Razia fez negócio com a Marussia, substituindo o alemão Timo Glock.

Fez bom negócio, ou mau negócio? Depende do ponto de vista. Se visava simplesmente concretizar o sonho de correr na F1, fez um bom negócio. Se visa ter uma carreira bem sucedida na categoria, a longo prazo, fez mau negócio.

Infelizmente, não se pode esperar muita coisa da Marussia. Nos anos 1988, 1989, houve um fluxo grande de novas equipes na F1, entre as quais, a Euro Brun e a Coloni. Em comum, todas as equipes tinham motor Cosworth e câmbio Hewland. Juntavam-se a estas outras equipes pequenas, como AGS, Zakspeed, Rial, Dallara e Onyx, e a lista de inscritos dos GPs se inflou, chegando a 39 e exigindo sessões de pré-qualificação.

Algumas destas equipes, por exemplo, a Rial, Dallara e Onyx chegaram a marcar heroicos pontos. Já não foi o caso da Euro Brun e Coloni. A Rial marcou pontos por que na F1 da época, os carros das grandes equipes quebravam muito, e assim, vez por outra dava uma zebra no Top 6.

Hoje em dia,. carros de ponta não quebram, auxiliados por muita tecnologia, telemetria, eletrônica, e pneus mais confiáveis. Apesar de serem distribuídos pontos para os dez primeiros, a possibilidade de uma equipe pequena chegar lá é exígua.

Assim que as três (era para ser quatro, lembrem-se) novas equipes da F1 não demonstraram, até hoje, uma razão boa para existirem, que não seja inflar um pouco o grid. Não marcaram um único ponto, apesar da generosidade da pontuação atual. Na realidade, não evoluiram, pioraram. Brigam pelos milhões do décimo lugar, sem marcar um único ponto.

Não vejo a situação da Marussia melhorar em relação a 2012, de fato, vejo piorar com a saída de Glock. O alemão é um bom piloto de F1, e quando a Toyota se evaporou da F1, estava se aprimorando cada vez mais. Sei que os bairristas brasileiros nutrem antipatia pelo teutônico, culpando-o pela perda do título de Massa em 2008. Mas o fato é que Glock tinha futuro.

Futuro este que foi trucidado pela Virgin, depois Marussia. Sim, permaneceu na F1, ganhou um punhado de Euros, só que as três equipes de retaguarda provaram ser cemitérios de carreiras, não trampolins para algo melhor. Que o digam Jarno Trulli, Heikki Kovalainen, Lucas di Grassi e Vitaly Petrov.

Assim, esperem o nosso piloto frequentemente na última fila. Se vai ganhar a disputa interna com seu companheiro, não tenho ideia. Pode ser que sim, pode ser que não. Porém nada disso importará. Não também não vejo a equipe sobreviver além de 2013.

Sorry, periferia.

Carlos de Paula é tradutor, escritor e historiador de automobilismo, e alguns dizem, pessimista. Porém, suas previsões geralmente se cumprem.

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