Tecnos, Ensigns, Iso Marlboro e Marussia

O cara tem que ser muito durão, mal humorado ou chato para não ter curtido os primeiros pontos da Marussia e de Jules Bianchi na Fórmula 1. Trata-se de um feito e tanto, considerando-se que a equipe, inicialmente chamada Virgin, já estava na F-1 desde 2010, e virgem em termos de pontos!. E que também estes foarm os únicos pontos até agora das equipes que nasceram para padecer na F1 - na época, Lotus, Hispania e Virgin.

Não foram inúteis de todo estas equipes. Serviram para simplesmente acabar com qualquer possibilidade de vingar a carreira de Lucas di Grassi na F1, e só não acabou com a carreira de Bruno Senna por causa do sobrenome famoso. Permitiu que pilotos como Giedo Van Der Garde e Jerome D"Ambrosio digam a seus netos que um dia correram na F1, e deram uma sobrevida às carreiras de Jarno Trulli, Heikki Kovalainen, Naraim Karthikeyan e Pedro de La Rosa. Também serviram para dar os primeiros passos de Daniel Ricciardo na categoria (diga-se de passagem, errei e errei feio em relação ao australiano, admito).

Eram para ser quatro, as equipes que nasceram para padecer, mas uma, a USF1 já nasceu morta, e dava para ver de longe que era mais um exercício de marketing do que qualquer outra coisa. E desde então vêm padecendo estas equipes, uma das quais consegue, anualmente, milhões de dólares sem marcar sequer um ponto no campeonato, sendo a melhor entre as piores.

Dava para sentir que se alguém conseguiria marcar um pontico com uma das cadeiras elétricas, seria o Jules Bianchi.

Lembro-me de alguns primeiros pontos memoráveis. Por exemplo, da Tecno. Nesse caso, primeiro e último A equipe estreara em 1972, com um carro com motor próprio, o grande erro dos irmãos Pederzani. Afinal de contas, na F3 e F2 a Tecno tinha obtido bons resultados e quem sabe, com um motor Ford, teria seguido em frente. A efeméride se deu no GP da Bélgica, quando Chris Amon, em franca decadência, conseguiu um ponto pelo sexto lugar. Era sua estreia com o carro, porém, daí para frente o Tecno só fez feio, e não passou de 1973. Nem mesmo na categoria Protótipos 2 litros o motor Tecno foi bem.

Uma outra equipe que parecia que teria problemas para marcar pontos era a Ensign. Seus inícios, em 1973 não foram auspiciosos, e em 1974 a coisa não melhorou. Em 1975 o carro apareceu patrocinado por uma empresa holandesa de alarmes, HB Bewaking Alarmsystem, e dois holandeses. Um o conhecido Gijs Van Lennep, venecdor de Le Mans e da Targa Florio, o outro, o menos cotado Roelof Wunderink. Van Lennep conseguiu a façanha de levar o fraco carro para o sexto lugar no GP da Alemanha. Cabe lembrar que tanto neste GP da Alemanha, como no GP de Bélgica de 1973, houve muitos abandonos.

Curiosamente, Van Lennep deu os primeiros pontos para outra cadeira elétrica, o Iso Marlboro em 1973. Notavelmente, foram os primeiros pontos de um carro construído por Frank Williams, que dia se tornaria um grande construtor, até  seu mundo colapsar depois da partida da BMW. O feito se deu na Holanda, em 1973. A equipe conseguiu extrair mais um pontinho, com Howden Ganley, no GP do Canadá, onde curiosamente o pace car entrou na frente de Ganley, que estava longe de ser o líder da corrida...Eventualmente, nas mãos de Arturo Merzario o Iso Marlboro se mostrou razoavelmente competitivo em 1974, porém, após um calote da Iso, Williams passou a usar o nome Williams em 1975.

O primeiro pontinho da Fittipaldi também foi memorável, com a diferença que todos esperavam que seria o primeiro de muitos. Sim, a equipe brasileira marcou diversos outros pontos depois do sexto lugar no GP de Long Beach de 1976, porém, não foram tantos assim. Depois de um início difícil em 1975, com a chegada de Emerson na equipe se esperava muito da "Copersucar". A performance nos treinos do GP do Brasil de 1976 confirmavam os bons agouros, porém, o resto da temporada foi uma decepção atrás da outra, e a soma total de pontos da equipe foram míseros 3. Terrível para um piloto que estava acostumado a ser campeão ou vice-campeão nos quatro últimos anos. O otimismo exagerado de achar que qualquer um com  motor Cosworth e caixa de câmbio Hewland poderia se dar bem não fez muito efeito, pois diversos outros ainda continuaram a tentar a sorte.

Cabe lembrar, entretanto, que um número muito grande de construtores tentaram, sem conseguir, marcar pontos na F1 nos anos 70. Politoys, Connew, De Tomaso, Bellasi, Apollon (um Williams levemente modificado), Maki, Kojima, Martini, Merzario, Amon, Token, Lyncar, eifelland (no fundo um March com carroceria diferente), Trojan, Lec, Kauhsen, McGuire (outro Williams levemente modificado), Boro (na realidade um Ensign), isto os que eu lembro de cabeça.

É preciso lembrar que marcar pontos na F1 na época não era fácil, pois somente os seis primeiros pontuavam. Isto não desmerece o feito da Marussia, por que, se por um lado somente seis pontuavam, os carros quebravam muito, principalmente os carros de ponta. Assim, o sujeito poderia almejar um pontinho aqui e acolá, se maneirasse, mesmo andando devagar. Hoje em dia, as cadeiras elétricas de plantão sofrem com a grande confiabilidade dos carros de ponta. Por isso, chegar em nono hoje em dia pode ser equiparável a chegar em quinto em 72, 73.

Obviamente, não devemos incluir Bianchi e seu bólido na lista de potenciais concorrentes para acabar com o domínio da Mercedes. Só conseguirá marcar pontos novamente se o número de abandonos fora tão grande quanto em Monaco.

Mesmo assim, restam aqui meus sinceros parabéns.

Carlos de Paula é tradutor, escritor e historiador de automobilismo baseado em Miami.   

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