A hora de parar

Podem ficar tranquilos, não vou parar de escrever blogs. Tem gente que gostaria, mas vou continuar. Vão ter que me aguentar mais um tempo.

Quando Michael Schumacher disse que voltaria à F1, em 2010, logo previ que não daria certo. Muitos disseram que estava sendo precipitado, que Michael só estava querendo se divertir(!), e que ele ainda era Michael.

Michael até pode ser Michael, e tenho certeza de que ainda é. Pelo que me consta, não trocou de nome, não morreu, nem fez operação de mudança de sexo. Portanto, Michael ainda é Michael. Só não é mais AQUELE Michael.

Não conheço o alemão pessoalmente, porém, pelas declarações na imprensa, e analisando sua extensa carreira profundamente, cheguei à conclusão de que tinha algumas metas. A primeira, pilotar o carro vencedor na primeira vitória da volta da Mercedes como construtora, já que não pode faze-lo como fornecedora de motores. Depois, tornar-se o primeiro campeão com a marca desde 1955, provavelmente no terceiro ano contrato - ou seja, 2012. Provavelmente queria também o primeiro pódium, a primeira volta mais rápida, a primeira pole. Disse, com todos os pingos nos "i", que voltou para vencer.

Basta lembrar que Michael mais ou menos "abandonou" o barco mercediano em 1991, quando acertou com a Benneton, quando a Mercedes já planejava voltar à F1, inicialmente com a mesma Sauber que a ajudara a obter sucesso no Grupo C. Jurava amores à Mercedes naquela época, mas assim como o PHGanso que estava de amores com o Santos em 2010 e em pouco tempo trocou de camisa, Michael logo esqueceu dos seus planos e se mandou para a Benneton. E quando entrou para a Ferrari, declarou que se aposentaria na Ferrari!

Não vou simplificar a história - pois não é tão simples, tem também o Ross Brawn, o desafio de se mostrar mais rápido do que Nico Rosberg, provar que ainda era o cara, fazer as "pazes" com a Mercedes, provar que a Alemanha ainda tinha um rei, e este não era Vettel - e, quem sabe, atingir a impossível cifra de 100 vitórias em GP. Ou quem sabe ultrapassar seu ex-companheiro, hoje desafeto Barrichello, no recorde de maior número de GPs disputados. Uma coisa é certa - não era atrás de dinheiro ou fama que Michael corria.

Somente os mais ávidos fãs de Michael diriam que sua volta foi bem sucedida. Desde o começo, Nico Rosberg foi mais rápido do que Michael em quase todas as corridas. Nico acabou ganhando a primeira prova da volta da Mercedes, e terminou 2010 e 2011 (e certamente terminará 2012) na frente do MS na pontuação geral. Michael demorou 2 temporadas e meia para subir no pódium novamente, e ainda assim, num humilde (e até agora único) terceiro lugar. Sim, conseguiu marcar um segundo tempo num GP, e teria largado na primeira fila, não fosse a sorte abandoná-lo. Pois até a sorte que um dia nunca abandonava o alemão, o abandonou naquele dia.

Não resta dúvida de que MS não voltará à F1 em 2013, e para mim fica claro que ele começa a ser um perigo para ele próprio e seus companheiros de pista. Que o velho Michael osso quase impossível de roer voltou diferente ficou claro logo de cara. Pilotos de um calibre mediano batalharam - e prevaleceram - contra MS, inclusive, com certa frequência, carros da Force-India. Nessa segunda etapa da carreira, ficou bem mais fácil ultrapassar Michael Schumacher.

Até aí, nada. Porém, no acidente de domingo ficou patente, pelo menos para mim, e um número enorme de observadores, que os reflexos do alemão já não estão 100%. O acidente poderia ter resultados bem piores, para ele ou para Vergne.

Convenhamos, Michael é um homem de 44 anos. Ok, Louis Chiron, Philippe Etancelin se aposentaram com mais de cinquenta anos. Não se pode, entretanto, comparar um carro de F1 dos anos 50 com um F1 atual. Até mesmo o excepcional Fangio, num curto espaço de alguns meses, passou de piloto que conseguiu destroçar a equipe da Ferrari em Nurburging, em 1957, a um piloto que não conseguia passar além de quarto lugar em grandes prêmios em 1958. Sei que a Maserati 250F já tinha passado da época em 1958, porém, nem Vanwall nem Ferrari tinham evoluído tanto assim. A idade finalmente pesara para Fangio, que sabiamente soube se aposentar.

Já se fala quase abertamente em Lewis Hamilton na Mercedes, certamente no lugar de Michael. Além disso, tem também o Nico Hulkenberg, o Valteri Bottas,. e quem sabe até o Adrian Sutil e o Sergio Perez dando sopa. Sem conar o misterioso Kimi...

Infelizmente, até para o mais bem sucedido piloto da F1 até hoje (não estou dizendo o melhor), um dia as coisas azedam. Time to go home, Michael.

Carlos de Paula é tradutor e historiador de automobilismo baseado em Miami

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