A crise da base

Recentemente, Gerhard Berger, encarregado das categorias de base do automobilismo internacional da FIA, declarou que existe uma crise no segmento. E Gerhard, grande conhecedor do automobilismo, está certo, certíssimo.

 No final dos anos 60, início dos anos 70, quando o automobilismo internacional se organizou, era fácil detectar o que era o que no automobilismo. Na Europa, de modo geral, a sequência era F3 -> F2 -> F5000 -> F1. Cada país tinha categorias inferiores à F3, no caso da Inglaterra, a Formula Ford, na França, a Fórmula Renault, na Itália, a Fórmula Itália, e nos países escandinavos e teutônicos, as Fórmulas Vê e Super-Vê.

 Em 1971, surgiu a Formula Atlantic que bagunçou um pouco a coisa. Em 1970, a F3 ainda era equipada com motores de 1 litro, passando para 1,6 em 1971. Era exatamente a capacidade cúbica da F-Atlantic, surgida em 1971.

 As duas categorias foram disputadas concomitantemente durante umas cinco temporadas, e a Atlantic quase mata a F3 inglesa. Em 1971, 72, até 100 carros eram inscritos em provas do campeonato inglês, embora muitos não aparecesem na hora "h". Ainda assim, 75 carros participavam. Em 1974, quando a capacidade cúbica da F3 mudou mais uma vez (para 2 litros) a Atlantic parecia ter dado um golpe fatal na F3. Grande parte das corridas dos campeonatos ingleses daquele ano foi disputada com 10, 12 carros, algumas com menos, ao passo que os grids da Atlantic prosperavam. No fim das contas, ficou claro que só havia espaço para uma categoria desse nível no automobilismo inglês, e sobrou para a Atlantic, que acabou se fixando em outras praias, longe das ilhas britânicas . A F3 continua viva até hoje.

 Só que a nobre categoria que revelou tantos talentos está capengando novamente, pela mesma razão que balançou em 1971 - concorrência de categorias do mesmo nível. Ocorre que hoje existem tantas categorias no nível imediatamente inferior à GP2, que ninguém entende mais qual é o caminho a seguir. Sim, depois da F1 vem a GP2, isto está claro. Só que daí para baixo, começa a bagunça. GP3, Formula 2, Formula 3, Auto GP.

Se todas as categorias estivessem prosperando, tudo bem. Todas estão fracas, com grids pequenos. Sim, no fim do ano, produzem-se quatro campeões, que podem voltar a seus países para obter patrocínio, afinal são campeões. Mas com que mérito? A A1 e a Super League provaram que a proliferação de categorias de monopostos de nível internacional não beneficia muito o automobilismo. Nem tampouco os pilotos. Que me lembre, nenhum dos pilotos destas categorias seguiu carreira na F1.

Além disso, somente os grandes aficcionados sabem (ou se lembram ou se importam em saber) quem foram os campeões da renascida Formula 2 e da AutoGP. Em suma, mais cedo, mais tarde pelo menos duas das categorias mencionadas acima desaparecerão. Espero que a Formula 3 sobreviva.

Comentários

Postagens mais visitadas deste blog

O taxista de São Paulo, e muito disse não disse

RESULTADOS DE CORRIDAS BRASILEIRAS REMOVIDOS DO BLOG

DO CÉU AO INFERNO EM DUAS SEMANAS - A STOCK-CAR EM 1979