UMA CARREIRA À MODA ANTIGA
Há questão
de dois anos atrás examinei criticamente as minhas atuações em redes sociais e
blogs. Cheguei à conclusão de que me causavam um prejuízo em produtividade,
e interferiam de forma negativa até
mesmo na minha vida social. Resolvi parar de blogar e limitar minha atuação na
internet, até conseguir ficar um ano sem postar nada no facebook. Consegui
atingir meus objetivos, e acho que atualmente tenho uma relação mais saudável
com a internet.
Justo no
dia em que estava voltando a participar mais, comentar com maior empenho nos
postings de outros, fiz o erro de interagir em uma postagem num certo grupo. O
autor postava a foto de um ex-piloto de Fórmula 1 numa corrida de Fórmula 2 nos
anos 70, dizendo que naquele tempo os pilotos praticavam o esporte por mero
prazer, e por isso corriam em diversas categorias. Na minha inocência, comentei
que não era bem assim, e que nos anos 50, 60, e 70, pilotos de Fórmula 1 basicamente
precisavam correr em outras categorias, pois eram muito mal pagos na F-1
(que diga-se de passagem, só tinha umas doze corridas). Como exemplo, usei
Chris Amon, que em 1968 ganhava meros 25.000 (ou 30.000 segundo outras fontes)
dólares para pilotar para a Ferrari – em diversas categorias. Os pilotos
precisavam disputar muitas corridas para ganhar prêmios de largada e de
corrida. O autor do post, chamemo-lo de Amigo
do Lampadinha, recusou minha argumentação, dizendo que US$ 25.000 era muita
grana em 1968, e basicamente, que eu não sabia do que estava falando.
Vamos aos
fatos. Certamente, em 1968 US$ 25.000 era uma quantia muito mais interessante
do que hoje em dia. Já que estamos falando em dólares americanos, vamos aos
dados concretos. Naquela época, o salário médio anual do trabalhador americano
era US$ 10.000. O custo médio de uma casa nos EUA era US$ 33.000. Paremos por
aqui, já é suficiente. Hoje em dia, o salário médio anual do americano é mais
ou menos US$ 46.000, e o preço médio de uma casa no país, algo por volta de
US$180.000. Ou seja, Amon ganhava por volta de US$ 170.000 em dólares de hoje.
Isso para correr em Fórmula 1, Fórmula 2, Fórmula Tasmânia, Can-Am e no Mundial
de Marcas. Longe de ser uma fortuna. Há alguns anos atrás até o meia-boca
Pastor Maldonado ganhava US$ 500.000 por ano na F-1, e a maioria dos pilotos de
F-1 ganha além de US$ 1 milhão.
O Amigo do Lampadinha continuou a discutir
(sozinho) e não se contentou enquanto não me chamou de uma maneira nada sutil
de idiota. Quase saí do grupo, muita gente tomou minhas dores, outros disseram
que o Amigo do Lampadinha era um
conhecido troll, e acho que foi inclusive excluído do grupo. Resolvi que não
deveria deixar o desagradável episódio me afetar muito, e continuei a minha
caminhada.
Quando
comecei a seguir o automobilismo, de fato, os pilotos da Fórmula 1 corriam em
diversas categorias. Tinha gente participando na Fórmula 2, Fórmula 5000 (no
campeonato Europeu, no Americano e na Tasmânia), no Mundial de Marcas, Can Am,
Intersérie, Europeu de 2 Litros, Europeu de Subida de Montanha, Europeu de
Turismo, NASCAR, Fórmula Indy, Série Springbok na África do Sul, Europeu de GT,
corridas no Japão, Macau e África, e campeonatos nacionais na Europa e outros
continentes. Ganhavam uns trocados aqui e ali – não quero dizer que não curtiam
correr, mas com certeza, a razão pecuniária era mais forte. Afinal de contas, o
automobilismo era muito mais perigoso naquela época, e diversos pilotos de
Fórmula 1 haviam perdido a vida em outras categorias, como Pedro Rodriguez,
Bruce McLaren, Jo Bonnier, Mike Spence, Lodovico Scarfiotti, Lucien Bianchi. Eventualmente,
à medida que a Fórmula 1 foi enriquecendo com a TV e patrocinadores, os pilotos
passaram a ganhar mais, e de fato, muitos foram proibidos de correr em outras
categorias.
Mesmo os
pilotos fora da Fórmula 1 passaram a atuar somente em uma única categoria. No
máximo, uma ou outra participação especial nas corridas de 24 Horas em Le Mans,
Daytona e Nurburgring, e na Indy 500. As
categorias e campeonatos foram se proliferando, os esquemas se
profissionalizando.
Hoje,
quando vemos a carreira do suíço Sebastien Buemi, obviamente nos remetemos aos
velhos tempos. O ex-piloto de F1 Buemi não somente é um dos principais pilotos
do Campeonato Mundial de Endurance, como da Fórmula E. E ganha nas duas
categorias com grande desenvoltura. Isto é raro hoje, raríssimo. Um ou outro
piloto, como Jose Maria Lopez, Stephane Sarrazin, Mike Conway e mesmo Nelson
Piquet Junior correm em mais de uma categoria de alto nível no momento, porém,
nenhum consegue o nível de sucesso que Buemi tem conseguido, que nos faz
lembrar de astros como Ickx, Andretti, Foyt, Rindt, Moss, Clark, Siffert,
Rodriguez, Hulme, que ganhavam corridas e eram extremamente competitivos em
diversas categorias ao mesmo tempo.
Quem sabe
seja o início de algo novo. A participação de Alonso em Indy, e Hulkenberg em
Le Mans (com vitória) há dois anos atrás me trazem esperança. O automobilismo
precisa de mais Buemis.
Comentários
Postar um comentário