Forza Amon
O processo
de edição de um livro é laborioso, e às vezes inglório, principalmente quando
se trata de um trabalho de conteúdo histórico. Na ficção você está inventando,
portanto, a não ser que se perca completamente na narrativa ou na sequência,
ninguém pode te criticar. Com conteúdo histórico, a coisa fica mais difícil.
Antigamente,
os livros eram tipografados, e muitas vezes os erros ocorriam por culpa dos
tipógrafos. Menos mal, hoje em dia, são digitalizados no computador, e em tese,
o autor tem mais controle sobre a obra. Porém, há outras considerações. As
editoras não dão aos autores carta branca para escrever o quando desejam. Aí
entram em cena editores que cortam, cortam, cortam, até atingir o tamanho
“desejado”, que esteja de acordo com o orçamento planejado para a obra. Para
piorar, muitas vezes o editor da obra não é uma pessoa lá muito entusiasmada
com o assunto, e resolve tirar justamente coisas importantes para verdadeiros
entusiastas e deixa outras que, na sua opinião, refletem um lado mais “interessante”,
uma dimensão humana do assunto da obra.
O livro
“Forza Amon” foi escrito por Eoin Young,
um dos grandes jornalistas especializados em automobilismo da sua época.
Lembro-me bem das suas colunas na Auto Week e OnTrack, sempre bem escritas, com
humor, e corretas sob o ponto de vista fatual. Além disso, Eoin Young também
era neozelandês como Amon, e seu amigo pessoal durante muitos anos. Infelizmente
o livro foi lançado numa época em que a última coisa que estava passando na
minha cabeça era comprar livros. A revista OnTrack tinha saído de circulação,
os sites especializados da época eram precários, vivi num buraco negro em
termos automobilisticos durante um ano. Também foi uma época problemática, logo
depois do 9/11, e meus negócios não iam bem. Tinha outras prioridades. Assim
sendo, não comprei o livro na época.
Há algum
tempo vinha monitorando a Amazon.com para comprar um exemplar usado do livro.
Pagar US$ 600 por um livro despachado da Nova Zelândia não me pareceu prudente,
sendo assim, esperei pacientemente. Eventualmente achei um exemplar no estado
da Georgia, por US$ 115.
Quando
recebi o livro, tive uma surpresa. O exemplar foi um dos dois enviados à
Library of Congress dos EUA para registro do Copyright, tendo inclusive os
carimbos pertinentes e a etiqueta da biblioteca.
De modo
geral, o livro é muito bom. Infelizmente, o final me lembrou um pouco aquelas
novelas brasileiras. 190 capítulos em que não acontece nada, depois na última
semana acontece tudo rápida e atrapalhadamente.
Na realidade, acho que foi culpa do editor, só pode ser.
Após 1973,
parece que muita coisa foi cortada. Os depoimentos pessoais de Amon, bastante
frequentes no começo do livro, praticamente desaparecem. Imagino que editar um
livro sobre um piloto de Fórmula 1 que nunca ganhou um GP tenha sido uma
proposta que encontrou alguns opositores
na editora e que o objetivo era fazer um livro de somente duzentas páginas.
Sendo assim, partes importantes dos últimos anos de Amon nas corridas foram
simplesmente cortadas, resumidas, além de haver algumas confusões com datas e
locais.
Coincidentemente,
foram feitos muitos erros relacionados à Bélgica. Eoin escreve que Amon obteve
o quinto lugar no GP belga de 1972 na sua pista predileta, Spa-Francorchamps.
Na realidade, a corrida ocorreu em Nivelles (e Amon marcou a melhor volta), e a
pista velha de Spa tivera seu último GP em 1971. Depois, em outro trecho, é
dito que o GP belga de 1973 ocorreu em Nivelles, quando ocorreu em Zolder! O
último equívoco “belga” é o pior de todos. Ao narrar a temporada de Amon em
1976, sua última, o autor se atrapalha completamente. Passa do GP de Long Beach para o GP da
Bélgica, simplesmente pulando o GP da Espanha! Essa corrida foi super
importante, acima de tudo, por que foi o último GP no qual Amon marcou pontos ao
ter obtido um quinto lugar (durante algum tempo aparecia em quarto, devido a
desclassificação de Hunt), além de ser a estreia do Ensign MN176! Depois, o
autor coloca Amon na primeira fila do GP da Suécia (largou em terceiro, um fato
estupendo, porém não na primeira fila) e largando em quinto na Inglaterra
(largou em sexto). Dá-se a impressão que o autor fez esse capítulo correndo, sob
pressão, resumindo, cometendo diversos erros.
A lista de resultados no final do livro contém
os fatos corretos.
O trecho
sobre a epopéia da equipe Dalton-Amon também me pareceu extremamente abreviado,
faltando detalhes de um assunto do qual se sabe muito pouco. Depois, no post
script, Eoin menciona que naquela época Amon recebera convites de equipes de
primeira, sem identificá-las (na realidade, uma delas foi a Brabham, antes de
oferecer o carro a Pace, Bernie Ecclestone oferecera a Amon, as outras
francamente, não sei qual foram). Por último, não há quase nada sobre a participação
de Amon no projeto Wolf na Can Am em 1977 (chegou a fazer uma corrida e
continuou como manager no resto do ano), embora um desenho do carro apareça na
contra-capa interna. O post script, entretanto, pareceu alongado e meloso demais,
falando sobre a vida de Amon após aposentar-se do automobilismo e voltar à Nova
Zelândia. Não que isso seja completamente desinteressante – porém entre saber
sobre isso e mais detalhes sobre a temporada de 1977, preferia saber mais
detalhes sobre o último assunto.
Enfim,
fiquei um pouco desapontado com o final do livro, confesso, principalmente
considerando o valor pago pelo tomo. A obra poderia ser mais longa, de fato,
Chris merecia um livro mais detalhado sobre a sua interessante carreira. Repito
que não acho que foi culpa de Eoin Young.
Bem, nem
Young, nem Amon estão mais vivos para
contar essa história direito. O que importa é que finalmente adquiri o livro.
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