Um post terrivel, não leiam
Nós, os
civilizados, nos iludimos com a ideia de que somos todos iguais perante a lei e
perante a sociedade de modo geral. Trata-se de uma inverdade. Alguns são mais
iguais que os outros, sempre digo. Lembremos que na sociedade há privilégios. E
nem sempre os privilegiados são parte das elites endinheiradas.
No fundo, o
ser humano sempre vai abusar um pouquinho do seu poder, se o tiver, seja o
fulano político, professor, clérigo, policial, burocrata, empregador, terrorista,
bandido, progenitor, mestre de obras ou “formador de opinião”.
Ah, os “formadores
de opinião”!!! Tenho milhares de textos na internet, em diversos idiomas, que
já tiveram milhões de leituras. Isso não me faz um “formador de opinião”. Sou
um humilde e ilustre desconhecido, e tenho plena noção disso. Tenho tanta
influência como uma baratinha numa cozinha. Chateio durante alguns instantes,
porém, posso ser facilmente eliminado com uma vassourada ou com um inseticida.
Isto ficou
claro, há alguns anos atrás, quando veiculei uma opinião não muito popular,
porém fundamentada, num dos meus blogs. Fui veementemente xingado por gente que
me conhecia e nem me conhecia. Se eu fosse um “formador de opinião”,
apareceriam os contemporizadores de plantão, os amigões do peito, e tudo
terminaria em pizza. Com aliche e prosciutto!
Ou seja, é
necessário ter cuidado com o que se fala, quando você não é mais igual do que
os outros.
Assim sendo, não me pronunciei muito sobre a questão Charlie Hebdo. Charlie eu sou, afinal de contas, me chamo Carlos. Só que por pouco escrevo um post que poderia ser muito mal interpretado, e quem sabe, me caberia a alcunha “Je suis fou”.
Como não
sou louco, não publiquei. Não faço parte dos mais iguais, porém tenho uma
imaginação que exige um certo freio, e freio ABS.
Mudemos de
assunto, quer dizer logo volto ao assunto principal. Gosto de jornalismo, de
jornais, de revistas, tudo que se relaciona à profissão. De fato tenho muitos
amigos jornalistas, aprecio sua amizade e passei a infância como frequentador
da Folha de São Paulo. Portanto, não quero ofender ninguém, muito menos amigos,
que poderiam interpretar mal os escritos de um “não formador de opinião”.
Afinal de contas, o ser humano também tem uma outra faceta, em geral é
corporativista.
Até tradutores, uma classe geralmente bastante desunida, quando
se junta defende com unhas e dentes a profissão. Alguns diriam até que somos
formadores de opinião, embora nosso trabalho seja inerentemente derivativo.
No curso
deste texto um tanto parabólico, diria até tangencial, decidi mudar um ou outro
detalhe, mantendo alguns parâmetros blindados. Tacando fogo, porém, com um
monte de extintores de incêndio e baldes d`água em prontidão. Ninguém pode
dizer que eu disse algo quando não disse....espero.
Voltemos ao
assunto. A sátira, o próprio humor, muitas vezes é cruel. Como escrevo alguns
textos de cunho satírico, tenho noção de que, em algum lugar, ofendo alguém.
Assim como sou ofendido por dezenas de posts, piadas, filmes, artigos numa base
diária. Diria que é muito difícil, quase impossível, e digo quase como margem
de erro, me ofender suficientemente para que eu deseje tomar uma arma e sair
dando tiros em quem quer que seja. Nossa, quanto “q”, melhor eu editar isto.
Não, estou com preguiça e não estou concorrendo a nenhum prêmio. Aliás, a meia
dúzia de leitores nem vai reparar.
Que fiquem os cacófatos “qs”. Tem hora que é bom não ser formador de
opinião. Em suma, não sou dado a soluções bélicas para os meus litígios.
Pois bem, todos
sabemos que os jornais e revistas que tanto amo estão em vias de extinção ou,
na melhor das hipóteses, grande metamorfose que os tornarão eunucos. A própria profissão de jornalista
está em perigo, e mesmo revistas de sacanagem, como a Playboy brasileira, correm
o risco de se tornar exclusivamente artigo de sebo. Não venham com gracinhas.
Isto é
terrível. Pensar num mundo sem bancas de jornais ou mesmo livrarias, e McDonald’s
em todo canto, é o fim da humanidade. É bem certo que o mundo sobreviveu bem
sem jornais e revistas durante muitos séculos, porém, ainda prefiro as bancas
de jornais aos ubíquos McDs. Se pudesse escolher entre um ou outro, mandaria o
McDonalds para o museu, não as bancas.
Ou seja, as
empresas jornalísticas e editores de revista, de modo geral, vivem uma existência
precária de mico-leão-dourado sem ter um Ibama ou Greenpeace para protegê-los e
salvá-los.
Daí vem a
tragédia do Charlie Hebdo, e o resultado foi curiosíssimo, sob o ponto de vista
pecuniário. Supostamente milhões de euros em doações caíram nos cofres da
empresa, que diz-se, não gozava de grande saúde financeira, e digo isso com uma
dose de misericórdia. Para toda ação, há uma reação.
Num momento
de delírio, cheguei a pensar num post, uma pequena estória, crônica, conto,
besteirol, como queiram. Todas revistas satíricas do mundo começariam a
publicar charges cada vez mais terríveis com temas muçulmanos, tudo isso
visando uma nova e salvadora tragédia que pudesse salvar o veículo da iminente morte. Uma
morte para salvar de outra.
Que ideia
absurda, de mau gosto, satírica ao N grau, quanta insensibilidade? Ainda bem
que não escrevi o tal post, pois poderia ser muito mal interpretado, poderia
ser, de vez, considerado o pariá da internet.
Je ne suis
pas fou. Mas também não sou “formador de opinião”.
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