Proibições de Patrocinio no Automobilismo
Os fabricantes de cigarros gastaram bilhões de dólares em patrocínio
no automobilismo, a partir de 1968. No século XIX, os cigarros eram vendidos
como itens saudáveis - acreditem ou não, bons para os pulmões! Aliás, essa
foi a bem sucedida abordagem usada para introduzir os cigarros no mercado
chinês na última parte daquele século. Logo a medicina destroçou a razão
distorcida dos tabagistas, mas como o lobby multibilionário sempre envolveu
dinheiro e poder em todo o mundo, os cigarros ainda são vendidos livremente por
toda parte, mas sua publicidade se tornou impossível. E os governos arrecadam
fortunas com o imposto do vício. É difícil parar a roda do comércio…Não era bem
assim em 1968, embora já houvesse algumas proibições publicitárias em certos
meios de comunicação e países. Essa foi a razão pela qual os fabricantes de
cigarros abraçaram as corridas com entusiasmo, especialmente porque a
propaganda direta do tabaco já era proibida na TV quase que universalmente. À
medida que o automobilismo se tornou mais um produto televisivo, tornou-se um
meio de publicidade muito útil para os anunciantes de cigarros, quase a única
maneira de suas marcas aparecerem em uma plataforma cada vez mais ubíqua,
relevante e influente. Com o tempo, nos acostumamos a ver Marlboro e Gitanes
patrocinando carros de Fórmula 1, embora os nomes não aparecessem em corridas
como os Grande Prêmios da Inglaterra e da Alemanha. Eventualmente, o patrocínio
de cigarros tornou-se universalmente proibido.
Agora, vemos logos de marcas
como Martini e Chandon omitidos em carros de Fórmula 1 nos Grandes Prêmios de
Abu Dhabi e Bahrein. Eu não entendi muito bem por que o logotipo da Singha pode
aparecer na Ferrari, pois Singha é a principal marca de cerveja da Tailândia.
Talvez cerveja seja permitida, champanhe e vermute não são permitidos? O que
diria o Alcorão sobre este assunto?
Seja como for, eu estava apenas
meditando sobre a condição do campeonato brasileiro de Stock Car. Embora seja um
campeonato local, um número de ex-pilotos de Fórmula 1 bem conhecidos disputa este
campeonato, incluindo Rubens Barrichello, Felipe Massa, Ricardo Zonta, Antonio
Pizzonia, Lucas di Grassi e Nelson Piquet Jr. Uma grande porcentagem do grid é
patrocinada por empresas farmacêuticas, principalmente fabricantes de
medicamentos genéricos. Esse padrão começou anos atrás, com o sucesso da
Medley.
Isso funciona no Brasil, não
funcionaria nos EUA, por exemplo. Os brasileiros são propensos à automedicação
e a compra de medicamentos em farmácias sem receita médica é um passatempo nacional.
Nos Estados Unidos, você nunca vê os pacotes dos medicamentos para a maioria
das receitas, sejam ou não genéricas: os remédios são removidos das caixas e
colocados em recipientes da própria farmácia. Portanto, os fabricantes de
medicamentos genéricos não têm nenhum motivo para sequer pensar em propaganda
para o público consumidor. Claro, isso não se aplica a marcas como o Viagra,
que patrocinou os carros da NASCAR. De fato, muitas propagandas de TV e
revistas hoje em dia são feitas por empresasfarmacêuticas, especialmente à
medida que o público da TV se torna mais velho. Os jovens estão deixando a TV
de lado, afinal de contas.
Voltando ao campeonato
brasileiro de Stock Car, se o governo decidir restringir ou proibir a
publicidade de empresas farmacêuticas de genéricos, o campeonato estará em uma
situação terrível. Tanto o campeão e vice-campeão deste ano (Daniel Serra e
Felipe Fraga) são patrocinados por farmacêuticas, na verdade, a equipe de
Fraga, Cimed, teve nada menos que cinco carros no evento de encerramento da
temporada de Interlagos.
Discuti profundamente o assunto
de patrocínio e dinheiro no meu livro Motor
Racing in the 70’s - Pivoting from Romantic to Organized, que pode ser
comprado aqui ou em várias lojas da
amazon.com de todo o mundo (infelizmente, não na amazon do Brasil). Discuto a
grande variedade de setores que patrocinavam corridas naquela década pioneira,
e naquela época as companhias farmacêuticas não eram patrocinadores comuns. As
coisas mudam. Para o bem da Stock Car brasileira, esperemos que não haja
proibição de publicidade aos fabricantes de medicamentos genéricos. E também
esperemos que muitos milhares de brasileiros não morram de automedicação
imprópria ...
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