Le Mans - duas corridas parecidas
As 24 Horas
de Le Mans desse ano me fizeram lembrar de outra edição da corrida.
Nas últimas
edições de Le Mans, temos nos acostumado com um domínio supremo dos LMP1 de
fábrica, que além de rápidos, pareciam essencialmente inquebráveis, correndo 24 horas como se fosse um GP de hora e meia. Numa
corrida cheia de surpresas – e um grid nanico de LMP1s - quase dá zebra. Meio
bilhão de dólares seriam jogados no lixo, se um mais humilde LMP2 ganhasse a
corrida e todos LMP1 ficassem pelo caminho.
Há algumas
coincidências com uma outra prova. Nas duas edições em pauta, a Porsche foi
protagonista e acabou ganhando. Em 2017, como em 1977, a Porsche tinha ganho a
edição do ano anterior. E havia um outro protagonista tido como favorito em
ambas as edições, que simplesmente TINHA que ganhar a corrida! Em 1977, o outro
era a Renault, nesse ano, a Toyota, que
perdeu a corrida na última volta no ano passado.
A Régie,
cuja corrida de 1976 havia sido um pequeno fracasso, havia trazido quatro
Alpines e dois Mirages para Sarthre, com fortes equipes de pilotos: Jean Pierre
Jabouille-Derek Bell, Patrick Depailler-Jacques Laffite, Patrick Tambay-Jean
Pierre Jaussaud e Rene Arnoux-Didier Pironi nas Alpine, e Michel Leclere-Sam
Posey e Vern Schuppan-Jean Pierre Jarier nos Mirage. A Porsche inscreveu Jacky
Ickx-Henri Pescarolo e Hurley Haywood- Jurgen Barth nos protótipos. Como
reforço, um 935 de fábrica para Rolf Stommelen e Manfred Schurti, que ninguém
esperava que ganhasse a corrida. Ou seja, 6 x 3.
Nesse ano a
Porsche só inscreveu dois LMP1, contra três híbridos da Toyota. Pegou mais leve, mais
uma vez.
Em 1976, a
Alpine-Renault marcou a pole, e liderou boa parte da corrida, porém abandonou e
a vitória ficou com Ickx-Van Lennep, com certa facilidade. Em 77, a Renault
veio com tudo, e marcou os dois melhores tempos nos treinos, além de obter o quarto e
quinto lugares. Os Mirage-Renault ficaram atrás do segundo 936, três 935 e uma Lola com motor
Cosworth. Porém, não era prudente desmerecer a equipe que ganhou em 75 e fora
segunda em 1976.
A Alpine
saiu na frente, seguida dos dois 936, porém a corrida da Porsche começou a
azedar logo de cara. O número quatro, de Haywood e Barth, fez sua primeira longa
parada nos boxes, e saira dos dez primeiros. O Porsche de Ickx caiu para o
quarto lugar na quarta hora, e daí veio a supresa. Pescarolo explodiu o motor
do carro, tomando certas liberdades com as rotações. Jabouille/Bell e
Depailler/Laffitte lideravam com bastante folga. Às oito da noite, o Porsche de
Haywood-Barth, que chegara a ficar em 41o. lugar, já estava em décimo, algumas
voltas atrás das Alpine. Daí a Porsche resolveu colocar Ickx no carro.
O belga
começou a andar dez segundos mais rápido do que as Alpines, e foi subindo,
subindo, subindo na classificação. Na décima terceira hora, o Porsche chegou ao
segundo-lugar, ficando atrás somente de Jabouille-Bell. E na décima oitava hora, mais precisamente às
9:27 da manhã, Porsche liderava a corrida, pois o motor da Alpine número 9
quebrara. Ainda sobrara a número oito (!!!), que resistiu até a 20a. hora.
Quem TINHA
que ganhar em 77, a Renault, não ganhou. Como não ganhou a Toyota neste ano. A
vitória ficou mesmo com Haywood-Barth e Ickx, o primeiro trio a ganhar Le Mans,
que chegou a estar em 41o. lugar. (Ed Hugus supostamente também pilotou o carro vencedor em 1965, porém, não foi incluido no resultado oficial). Todas Alpines quebraram. O não veloz, mas confiável Mirage-Renault de Schuppan e Jarier chegou em segundo lugar, o que
não foi suficiente para alegrar os franceses.
Os detalhes
diferem um pouco, mas no fim das contas, quem ganhou foi o mais fraco dos seis
favoritos, que teve que ralar bastante para ganhar a prova.
Enquanto
estava pensando neste texto, assistindo a TV, para minha surpresa, entrevistaram
Monsieur Ickx, o heroi de 1977, que também disse que a corrida o fazia lembrar
a prova de quarenta anos atrás...
Com esta
vitória, Ickx alcançava o conterrâneo Olivier Gendebien, tornando-se o maior
vencedor das 24 horas. Ainda ganharia mais duas, e seu recorde sobreviveu até
aparecer um certo Tom Kristensen.
A Renault persistiu
e voltou no ano seguinte, ganhando com Pironi-Jaussaud, finalmente batendo a
Porsche. Espero que a Toyota também persevere, e que ganhe a corrida do ano que
vem. Para mim fica óbvio que o futuro da corrida seja a categoria LMP2. É bem
certo que Oreca-Gibson não significa absolutamente
nada para a maioria da população do mundo, porém, não vejo muito futuro para a
categoria com somente dois fabricantes, que quase jogam a corrida no lixo neste
ano. E meio bilhão de dólares.
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