Algumas observações sobre Le Mans

Mais uma corrida, mais uma vitória da Audi. Só que desta vez não foi nada fácil, e de fato, Fassler-Lotterer-Treluyer tiveram que suar bastante para ganhar a corrida, combatendo não somente carros das equipes concorrentes Porsche a Toyota, como o carro número 1, pilotado, entre outros, pelo mega campeão Tom Kristensen.  O interessante é que apesar do ensaio de quebra-quebra, três carros top ainda chegaram nos primeiros três lugares, com uma diferença de 3 voltas do segundo para o primeiro, e cinco voltas do terceiro para o primeiro. Parece muita coisa para bem quem está acostumado com os sprints dos últimos anos, não só em Le Mans, como também em Daytona. Porém, não é.

Vejamos a primeira Le Mans ganha por um trio intencional, 1979 (a corrida de 1977 foi ganha por um trio, Ickx-Barth e Hawyood, porém., Ickx não estava inscrito no carro, tomou sua direção durante a noite). O trio que ganhou a corrida nesta ocasião era composto de um profissional, Klaus Ludwig, e dois semi-profissionais, os irmãos Bill e Don Whittington. O carro segundo colocado também era pilotado por um profissional, Rolf Stommelen, por dois amadores, os americanos Dick Barbour e o ator Paul Newman. Já aqui se nota uma grande diferença - é praticamente impossível pensar em um piloto não profissional chegar nas primeiras posições na grande corrida, com o alto nível de equipes, carros e pilotagem.

A corrida de 1979 também foi notável pois foi a primeira vitória do pós guerra de um carro baseado em um carro de rua. Pelo menos é isso que a Porsche gostaria que pensássemos do Porsche 935, que tinha algumas ligações com o Porsche 911, porém, um tanto distantes, principalmente o modelo K3 preparado pelos Kremer...

Já nas últimas edições de Le Mans, notamos que a vida dos GT ficou bastante difícil, com a proliferação de protótipos da classe LMP2. De fato, o vencedor entre os GT neste ano estava em 15o lugar. Cabe lembrar que em meados da primeira década do milênio, era comum ver Corvettes e Aston Martin entre os seis primeiros.

Voltemos à corrida de 1979. O carro vencedor dos Whittington e Ludwig não era o carro mais rápido da corrida,  porém largou na segunda fila. Na sua frente, dois protótipos Porsche 936 de fábrica, que equivaleriam à categoria LMP1 de hoje. Não eram os únicos grupo 6. De fato, havia dois Mirage, naquele ano chamados Ford M10, diversos Rondeau, o De Cadenet , dois Dome e alguns rápidos protótipos de 2 Litros. Porém, no final da corrida, o melhor Grupo 6 chegou em 5o. lugar (o Rondeau de Darniche e Ragnotti) e o próximo em 10o. (também Rondeau, de Pescarolo e Beltoise). Os dois 936 ficaram no meio do caminho, o último saindo da corrida após vinte horas. E não estava liderando.

De fato, o trio vencedor assumiu a ponta permanentemente na décima primeira hora,  e até as 10 e 35 da manhã as paradas foram rotineiras. Depois, teve três paradas de mais de vinte minutos, parando no circuito duas vezes, onde foram realizados concertos. Considerando-se que o carro de Stommelen-Newman e Barbour só teve um problema análogo às 11 e 10 do domingo, era para o carro vencedor botar ainda umas quinze voltas de diferença nos segundos colocados.

É bem verdade que 1979 foi um ano anticlimático. No ano anterior, a Renault compareceu com 6 carros (4 Alpines e 2 Mirages) e a Porsche com 3, e o resultado foi uma épica vitória para a Renault, que prontamente abandonou seu projeto Le Mans.

Além de haver poucos carros de altíssimo nível naquela edição (cabe lembrar que a categoria Endurance passava por um dos seus períodos mais críticos da história), mesmo os coadjuvantes pareciam bastante fracos. O nível dos carros usados em Le Mans, atualmente, e das equipes, é muito superior ao daquela época.

Está bem. Fui um pouco tendencioso em comparar a corrida de 79 com a Le Mans atual. Poderia ter comparado com a corrida de 1970, disputada por um grande número de magníficos Porsches 917 e Ferraris 512. Já que pediram, cabe lembrar que na primeira vitória na geral da Porsche, somente sete carros terminaram a corrida! Dois 917, um 908, duas 512 e dois humildes Porsche GT, um 914-6 e um 911. Os carros quebravam muito, algo que não ocorre atualmente. Por isso, para brigar pela vitória é preciso pilotos altamente profissionais, esquemas fortes e não vacilar.

São mundos bastante diferentes.

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